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E se não fosse a Universidade Federal?

Com as aulas suspensas para evitar a propagação do coronavírus, as universidades federais conduzem 823 pesquisas relacionadas à pandemia
Com as aulas suspensas para evitar a propagação do coronavírus, as universidades federais conduzem 823 pesquisas relacionadas à pandemia

O que é a vida. Coube a um ser microscópico mostrar aos maliciosos e ignorantes a importância do papel do Estado, da ciência e da pesquisa. Correndo do coronavírus, mesmo que a atenção dada não seja suficiente, é no poder público que a maioria busca um socorro, seja um necessitado CPF ou CNPJ.

Em tempos de epidemia, o que seria do nosso combalido sistema de saúde sem o SUS? Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 revela que cerca de 80% da população é SUS-dependente e até os que possuem plano privado de saúde usam o SUS direta ou indiretamente, quando precisam de vacinas a transplantes.

Sem o SUS estariam desassistidos como a maioria dos pobres negros e hispânicos americanos. Nos Estados Unidos, não há direito à saúde universal como no Brasil. A relação é de mercado, quem pode pagar é assistido, quem não pode fica à míngua.

E o que dizer da pesquisa produzida nas instituições estatais? Nesse aspecto, as universidades públicas têm um valor incontestável e se destacam na realização de 95% da ciência concebida no Brasil, sendo que 15 universidades federais estão entre as 20 que apresentam melhor desempenho nessa balbúrdia.

Agora mesmo, com as aulas suspensas para evitar a propagação do coronavírus, as universidades federais conduzem 823 pesquisas relacionadas à pandemia, segundo levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) envolvendo 46 das 67 instituições.

As pesquisas vão desde a identificação do genoma do novo vírus, o que poderá possibilitar a produção da vacina, da computação dos casos de coronavírus, identificando onde eles estão por georreferenciamento, a estudos para produção de testes a custos mais baixos, uma vez que os testes produzidos hoje dependem de componentes importados.

Cortes e fake news

As universidades federais e o SUS são atacados deslealmente desde o governo Temer com medidas como a Emenda Constitucional n° 95, que reduziu os investimentos nas áreas de Educação e Saúde ao congelar orçamento no patamar de 2016, e cortando bolsas de pesquisa de graduação e pós-graduação. O desserviço vem acompanhado das muitas fake news espalhadas com o intuito de jogar a opinião pública contra essas instituições tão necessárias ao país.

No governo Bolsonaro, o Ministério da Educação bloqueou uma parte do orçamento das universidades e institutos federais, um corte de R$ 1,7 bilhão, sendo 24,84% dos gastos não obrigatórios, discricionários, e 3,43% do orçamento total das federais.

E se fosse respeitada a regra anterior de orçamento a Saúde teria quase R$ 20 bilhões a mais de investimento em 2019. O SUS estaria mais bem preparado para enfrentar a pandemia, com mais leitos, mais profissionais e melhor estrutura de trabalho.

UFS, 52 anos

A Universidade Federal de Sergipe não só resiste como valoriza a sua importância. A instituição antecipou-se à crise e, no dia 12 de março, uma quinta-feira, o reitor Angelo Antoniolli criou o Comitê de Prevenção e Redução de Riscos frente à infecção pelo Coronavírus (Covid-19), formado por especialistas e presidido pelo vice-reitor Valter Joviniano, suspendendo as atividades acadêmicas extracurriculares e as viagens.

O primeiro caso de paciente contaminado em Sergipe foi confirmado no sábado, dia 14. As duas primeiras mortes, no dia 2 de abril. Na segunda-feira, dia 16 de março, a UFS suspendeu todas as atividades acadêmicas presenciais. E desde então as atividades consideradas essenciais não param. As ações seguem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde e a parceria com as secretarias de Saúde do Estado e dos municípios.

Os dois Hospitais Universitários, de Aracaju e Lagarto, têm desempenhado papel fundamental nessa luta. O HUL adequou sua estrutura assistencial, administrativa e de ensino para atender à situação emergencial da pandemia. Criou uma unidade exclusiva para síndromes respiratórias agudas, a Unidade de Doenças Respiratórias, com 46 leitos, sendo 10 de UTI e 36 de enfermaria, e está concluindo o hospital de campanha, com mais 20 leitos de média complexidade.

Ali, 500 profissionais do próprio HUL e, depois, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos em enfermagem do Estado foram treinados para o atendimento a pacientes contaminados com Covid-19.

O HU do Campus da Saúde, em Aracaju, classificado como um hospital de retaguarda, disponibiliza 30 leitos para pacientes da covid-19, sendo 14 de UTI e 16 de enfermaria. O hospital recebe pacientes encaminhados por outros serviços de saúde, regulados para o HU conforme a gravidade. Os dois hospitais da UFS já contam com 76 leitos exclusivos para pacientes da covid-19 e esse número chegará a 96.

A própria Universidade, através dos laboratórios de quatro dos seus seis campi (São Cristóvão, Lagarto, Itabaiana e Nossa Senhora da Glória), tem produzido álcool gel, álcool 70% glicerinado, protetores faciais, sabonete líquido e água sanitária, materiais que são necessários aos hospitais universitários e aos hospitais regionais, e que também são distribuídos comunitariamente. Até máscaras são confeccionadas e distribuídas voluntariamente.

Fora dos hospitais, o projeto de testagem rápida realizado nos dez municípios de maior população fez 4.000 diagnósticos e contribui com a construção do mapa epidemiológico do coronavírus em Sergipe. E um acordo firmado com o Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado de Sergipe possibilita ainda a realização de 3.500 testes, tendo como público-alvo profissionais da área de saúde, segurança pública e trabalhadores de empresas de serviços essenciais.

A Fábrica de Software da UFS desenvolveu o Monitora SUS, um sistema que permite integrar os resultados de exames virais nos 5.570 municípios do país. E o Laboratório de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional simula os impactos da pandemia na economia sergipana, considerando o afastamento de trabalhadores do mercado pelo período de três meses, por conta do isolamento social.

E enquanto cientistas buscam entender sobre o vírus e os efeitos da pandemia e produzem artigos científicos que são publicados em revistas científicas de reconhecimento mundial, médicos, psicólogos e professores de educação física fazem atendimentos remotamente, orientando sobre cuidados com a saúde física e mental durante o período de confinamento.

Tudo isso a UFS produz sem descuidar da assistência ao estudante que recebe bolsa e sem esquecer das obras da Unidade Materno Infantil do Hospital Universitário de Aracaju, que já estão em fase final, confirmando a previsão feita no início do ano de que o prédio será entregue ainda em 2020. Apesar da pandemia.

Na sexta-feira, 15, comemorou-se sem festa mais um aniversário da Universidade do povo sergipano, que foi fundada no emblemático ano de 1968. Para lembrar a data o reitor Angelo Antoniolli escreveu assim: “A caminhada de 52 anos da Universidade Federal de Sergipe mostra-nos, ao longo desse lapso de tempo e de suas atividades, que o respeito à democracia e à dignidade da pessoa humana são princípios que jamais deverão ser esquecidos. Nesse sentido, os autoritarismos batem às suas portas, podem até forçá-las, mas nela não haverão de encontrar guarida”. Que assim seja.

Marcos Cardoso

Gabinete do Reitor


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